Figuras de linguagem - Figuras de sintaxe ou de construção

03/06/2020

  • São as figuras em que se faz uso de inversões, de omissões, de modificações na concordância ou na construção sintática para atribuir maior expressividade ou estilo à produção.

  • Elipse: Omissão de elementos identificáveis facilmente na oração.

Exemplo:

Saí de casa atrasado.

Ocorreu a elipse do sujeito EU na oração acima. Por isso, o sujeito da oração acima é classificado como sujeito elíptico, ou seja, um sujeito que está em elipse (omitido).

  • Zeugma: Omissão de um termo já citado no mesmo período e normalmente com flexão diferente. Os casos mais comuns de zeugma ocorrem com verbos (o zeugma verbal é marcado por vírgula).

Exemplos:

"Pedro gosta de Direito; eu, de Medicina"

Note que a vírgula indica o zeugma de "gosto".

"A Austrália produz minérios e carne; o Japão, produtos eletrônicos."

Note que a vírgula indica o zeugma de "produz".

  • Assíndeto: Omissão de conjunção coordenativa. As orações em que esse fenômeno acontece recebem o nome de orações coordenadas assindéticas (a palavras "síndeto" significa presença de conjunção coordenativa, enquanto o prefixo "a-" indica a ideia de negação, de ausência).

Exemplo:

"Pedro fez o relatório, ele não o entregou ao chefe."

"Meus alunos são extremamente estudiosos, merecem passar em seus vestibulares e concursos públicos."

Nas frases acima, houve o assíndeto de uma conjunção adversativa (mas, porém etc.) e de uma conclusiva (portanto, logo etc.).

  • Polissíndeto: Repetição da mesma conjunção coordenativa (normalmente o E). Lembrando que que a palavra "síndeto" remete à presença de conjunção coordenativa, enquanto o prefixo "poli-" significa algo em grande quantidade (vários).

Exemplo:

"As ondas vão e vem, e vão, e são como o tempo." - Lulu Santos

Observe que o uso de polissíndeto no trecho da canção acima contribui para sugerir o movimento de vai e vem das ondas do mar.

  • Hipérbato (inversão): Inversão da ordem direta da oração (sujeito + verbo + complementos + adjuntos).

Exemplo:

"Na Bahia, existem belas praias."

Na frase acima, "Na Bahia" é adjunto adverbial de lugar; "existem" é verbo intransitivo; "belas praias" é sujeito. Na ordem direta, a frase seria:

"Belas praias existem na Bahia."

  • Anástrofe: Inversão entre termos vizinhos na oração (normalmente entre determinante e determinado). Alguns livros a consideram uma espécie de "hipérbato simples".

Exemplo:

"Aquele bom homem ajudou a todos."

Na frase acima, houve apenas uma inversão entre "homem" (núcleo do sujeito/ determinado) e "bom" (adjunto adnominal/ determinante). Na ordem direta, ter-se-ia:

"Aquele homem bom ajudou a todos."

Observe que, em alguns casos, a anástrofe gera mudança de significado ao determinante:

"Certo homem quer falar com você" - Ordem direta ("certo" é pronome indefinido e indica um homem qualquer).

"Desta vez, Maria achou o homem certo para se casar." - Ordem inversa/anástrofe ("certo" é adjetivo e indica o homem correto, ideal).

Veja mais um caso:

"Um homem grande" - Ordem direta (homem alto).

"Um grande homem" - Ordem inversa/anástrofe (um homem de muitas virtudes, de muito valor ou caráter).


  • Sínquise: Inversão drástica da ordem direta da oração que chega a dificultar a análise sintática e a compreensão do texto. Alguns autores a chamam de "hipérbato acentuado"

Um dos exemplos mais recorrentes em questões é o trecho inicial do Hino Nacional:

"Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heroico o brado retumbante..." 

Na ordem direta, ter-se-ia:

"As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico."

  • Quiasmo: Inversão em "X". Trata-se da reescritura de termos que acabaram de ser citados, mas em ordem inversa.

Exemplo:

"Chegou apressado, apressado chegou"

  • Hipálage: Atribuição de uma característica de um ser ou objeto a outro ser ou objeto que se encontra próximo ou relacionado com ele. Normalmente, é um recurso usado para transmitir uma característica do indivíduo para um objeto ou ambiente que o cerca.

Exemplo:

"Minha avó fazia uma lasanha distraída." - Pela lógica, a avó está distraída; mas, pelo que está escrito, tem-se a sensação de ser a lasanha.

"Pedro estava fumando um pensativo cigarro." - Pela lógica, Pedro estava pensativo, mas, pelo que está escrito, tem-se a sensação de ser o cigarro.

"O silêncio desaprovador dos meus colegas." (Camilo Castelo Branco) - Pela lógica, os colegas estavam desaprovando; mas, pelo que está escrito, tem-se a sensação se ser o silêncio.

"Os estabelecimentos loquazes* dos barbeiros" - Pela lógica, os barbeiros são loquazes; mas, pelo que está escrito, tem-se a sensação de serem os estabelecimentos.

*Loquaz: indivíduo que gosta de falar, que fala muito; tagarela.

  • Apóstrofe: É a figura do chamamento, da invocação (um vocativo literário, imaginário, poético, artístico). Revela-se por meio do vocativo sintático.

Exemplo:

"Tende piedade de mim, Senhor, de todas as mulheres
Que ninguém mais merece tanto amor e amizade." - Vinícius de Moraes

"Oh! Mar de Viga, acaso viste meu amigo? Aquele por quem tenho tanto sofrido?" - Canção de amigo (Trovadorismo)

  • Silepse: Aparente desvio na concordância que se justifica pela ideia contida na palavra. Concordância ideológica, ou seja, concorda-se com o sentido contido na palavra e não com sua estrutura gramatical. Pode ser de três tipos:

- De gênero: 

Exemplo:

"São Paulo é poluída"

Observe que "São Paulo" é substantivo masculino enquanto "poluída" é um adjetivo que está no feminino. O aparente erro se justifica pelo fato de referir-se à cidade de São Paulo.

- De número:

Exemplo:

"A população se assustou com os tiros e correram para casa."

Observe que "população" está no singular e "correram" está no plural. Isso ocorre, pois "população é substantivo coletivo, ou seja, carrega a ideia de plural.

- De pessoa:

Exemplo:

"Os goianos somos descrentes com a política nacional."

Observe que "os goianos" está na terceira pessoa, enquanto "somos" está na primeira pessoa. Esse é um recurso usado pelo enunciador para se incluir naquilo que está sendo dito, ou seja, ele também é goiano e também é descrente com a política nacional.

No primeiro quadro da tira do argentino Quino, a primeira personagem diz: "mais da metade da população mundial somos crianças". Houve uso da silepse de pessoa para marcar a inclusão do enunciador, ou seja, ele também é criança, logo inclui-se nessa estatística.

Na música "Inútil", a banda Ultraje a Rigor se utiliza ironicamente da silepse de número e de pessoa para satirizar a suposta incapacidade do brasileiro de votar, de se comportar, de se cuidar e de falar corretamente. Veja:

"A gente não sabemos escolher presidente
A gente não sabemos tomar conta da gente
A gente não sabemos nem escovar os dente
Tem gringo pensando que nóis é indigente

Inútil
A gente somos inútil "

  • Anacoluto: Frase iniciada por uma palavra ou locução, seguida de pausa, que tem como continuação uma oração em que essa palavra ou locução não se integra sintaticamente, embora esteja integrada pelo sentido. É também conhecido como anacolutia ou frase quebrada. (Dicionário Houaiss)

Exemplos:

"Educação, eu construirei escolas em meu mandato." 

Observe que "educação" está no início da frase, está seguida de pausa (vírgula) e relaciona-se com o sentido do restante da frase, embora não tenha relação sintática (não exerce função sintática dentro da oração que a segue. Veja: "eu" é sujeito; "construirei", verbo transitivo direto; "escolas", objeto direto; "em meu mandato", adjunto adverbial de tempo; "educação", por sua vez, não se encaixa em nenhuma função existente).

"Minha pátria é minha língua"
                         Caetano Veloso
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