Funções da linguagem - Enem e vestibulares - Teoria
Trata-se de um dos assuntos mais recorrentes na prova do ENEM! Estude a teoria neste post e resolva os exercícios sobre o mesmo assunto!
Veja também: Exercícios sobre funções da linguagem.
"Trata-se da ênfase dada a um dos elementos do processo comunicativo quando este se manifesta." - Sírio Possenti
Elementos do processo comunicativo:
- Emissor ou locutor: Indivíduo que codifica e emite a mensagem.
- Receptor ou interlocutor: Indivíduo que recebe e decodifica a mensagem.
- Mensagem: Ideia, conteúdo, carga semântica a ser transferida do locutor para o interlocutor.
- Código: Conjunto de sinais (gráficos, sonoros, gestuais, luminosos, palavras escritas ou faladas etc.) previamente que permite ao locutor materializar a mensagem.
- Canal: Meio físico por meio do qual a mensagem trafega.
- Contexto:
Situação
comunicativa (tempo, espaço, finalidade, características dos interlocutores.).
Veja a correspondência entre cada elemento do processo comunicativo e sua respectiva função da linguagem:

- Função emotiva ou expressiva:
O texto tem o objetivo de evidenciar sentimentos, sensações, pensamentos e opiniões do emissor. Na função emotiva, a atitude do emissor se sobressai em relação aos demais elementos.
Características:
- 1º pessoa;- Adjetivos e advérbios que marcam opinião, estado de espírito do enunciador-
- Pessoalidade;
- Subjetividade;
- Parcialidade.
É a função típica dos relatos pessoais, do artigo de opinião, do desabafo, do diário pessoal etc.
Exemplo:

Observe que, no texto de Gonçalves Dias, há, além da recorrência da 1º pessoa, a manifestação constante do estado de espírito e das opiniões do eu-lírico (emissor).
As funções de linguagem manifestam-se também em textos não verbais (imagens) ou mistos (imagem e escrita). A função emotiva, por exemplo, aparece nos autorretratos e "selfies" - produções imagéticas em que o autor volta-se para si mesmo.
Veja:

Autorretrato,
1889, Vincent Van Gogh
Observe que, na obra acima, Van Gogh se volta para a própria imagem, ou seja, para si mesmo, caracterizando-se a função emotiva ou expressiva da linguagem.
- Função apelativa ou conativa:
A intenção do texto é interagir com o interlocutor no intuito de orientar seu comportamento, de convencê-lo, de persuadi-lo.
Características:
•Marcas de interlocução:- 2º pessoa;
- Pronomes retos, de tratamento, possessivos, oblíquos;
- Imperativos;- Perguntas;
- Vocativos etc.
•Convencimento;
•Persuasão.
É a função típica dos anúncios publicitários, dos manifestos, do discurso político etc.
Exemplo:

Observe que, no anúncio acima, a função apelativa ou conativa é marcada linguisticamente pela presença dos imperativos "deixe" e "descarte", marcando a interlocução e buscando a adesão do interlocutor à campanha.
- Função referencial ou informativa:
Função que se centra no conteúdo da mensagem. A intenção do texto é apenas transmitir uma informação da forma mais clara, didática e objetiva possível.
Características:
- 3º pessoa;- Impessoalidade;
- Formalidade;
- Informatividade;
- Clareza;
- Objetividade;
- Precisão;
- Imparcialidade.
É a função de linguagem típica dos texto jornalísticos e dos artigos de divulgação científica. Veja o exemplo abaixo retirado de uma questão do ENEM.
Exemplo:

- Função poética:
Função que destaca a forma (estrutura) da mensagem, ou seja, a estética do texto.
Características:
•Rimas;•Versificação;
•Métrica;
•Estrofação;
•Musicalidade/Sonoridade;
•Figuras de linguagem;•Vocabulário (regional, erudito/rebuscado, criativo etc.)
•Neologismos;
•Inversões sintáticas etc.
É a função típica da poesia, música e textos literários em geral. Veja os exemplos abaixo:
Exemplo:
Língua Portuguesa - Olavo Bilac
Observe, no texto acima, alguns cuidados do autor com a estrutura (estética do texto): opção pelo soneto, uso de rimas interpoladas, vocabulário rebuscado (erudito), conotação ao se referir à Língua Portuguesa ("Última flor do Lácio) etc. Todos esses elementos contribuem para a manifestação da função poética da linguagem.
É importantíssimo destacar que essa função não é exclusiva da poesia. Ela também se manifesta em textos em prosa. Veja o trecho abaixo de "O burrinho pedrês", de Guimarães Rosa:
"(...) As ancas balançam, e as vagas de dorsos, das vacas e touros, batendo com as caudas, mugindo no meio, na massa embolada, com atritos de couros, estralos de guampas, estrondos e baques, e o berro queixoso do gado junqueira, de chifres imensos, com muita tristeza, saudade dos campos, querência dos pastos de lá do sertão...
Boi bem bravo, bate baixo, bota baba, boi berrando... Dança doido, dá de duro, dá de dentro, dá direito... Vai, vem, volta, vem na vara, vai não volta, vai varando...
Pouco a pouco; porém, os rostos se desempanam e os homens tomam gesto de repouso nas selas, satisfeitos. Que de trinta, trezentos ou três mil, só está quase pronta a boiada quando as alimárias se aglutinam em bicho inteiro - centopeia -, mesmo prestes assim para surpresas más.
- Tchou!... Tchou!... Eh, booôi!...
E, agora, pronta de todo está ela ficando, cá que cada vaqueiro pega o balanço de busto, sem-querer e imitativo, e que os cavalos gingam bovinamente. Devagar, mal percebido, vão sugados todos pelo rebanho trovejante - pata a pata, casco a casco, soca soca, fasta vento, rola e trota, cabisbaixos, mexe lama, pela estrada, chifres no ar...
A boiada vai, como um navio (...)".
Note que, embora seja um texto em prosa (escrito em frases e parágrafos) e não uma poesia, há a manifestação da função poética principalmente pelos jogos sonoros. O autor usa constantemente a aliteração (repetição do mesmo fonema consonantal) como forma de trabalhar a estética fonética do texto.
- Função fática:
Função que se centra no canal. Nela, a intenção é testar o canal, ou seja, testar a eficiência do processo comunicativo. É também muito utilizada para manter o processo comunicativo aberto.
Características:
- Interjeições (Alô!, Oi!, Olá!, Câmbio!, Tchau!);- Vocativos;
- Lugar-comum (frases vazias de significado e previsíveis em certos contextos, ex.: "Você vem sempre aqui?", no início de uma conversa de paquera);
- Baixo grau de informatividade;
- Certo desinteresse por parte dos interlocutores.
É a função que se manifesta nos telefonemas, quando de diz "alô!" para testar o canal ou em conversas banais (com motorista de aplicativo, com cabeleireiro, com o vizinho de prédio; em filas de banco ou de supermercado etc.) em que é necessário manter o processo comunicativo aberto.
Exemplo:

- Função metalinguística:
Função que se centra no próprio código. Aqui, o autor:
- Usa o gênero textual para se referir ao próprio gênero textual;
- Usa o texto para se referir ao processo de elaboração do próprio texto.
Nos verbetes de dicionário, por exemplo, usa-se o código (língua portuguesa) para se referir ao próprio código, ou seja, usam-se palavras para explicar palavras. Veja o verbete abaixo:

A metalinguagem ocorre também em diferentes gêneros textuais. Observe:
Desabafo
Desculpem-me, mas não dá pra fazer uma cronicazinha divertida hoje. Simplesmente não dá. Não tem como disfarçar: esta é uma típica manhã de segunda-feira. A começar pela luz acesa da sala que esqueci ontem à noite. Seis recados para serem respondidos na secretária eletrônica. Recados chatos. Contas para pagar que venceram ontem. Estou nervoso. Estou zangado.
CARNEIRO, J. E. Veja, 11 set. 2002 (fragmento).
Na crônica acima, o autor faz referência à própria crônica, caracterizando a metalinguagem. Vejamos um exemplo nas artes plásticas:

Na obra acima, do pintor surrealista belga René Magritte, a pintura faz referência ao próprio ato de pintar, evidenciando-se a função metalinguística.
Portanto, um conto que faz referência ao próprio conto, uma fotografia que faz referência à própria fotografia, um filme que faz referência ao próprio filme, um poema que faz referência ao próprio poema etc. caracterizam a metalinguagem.
Para encerramos nossa análise, lembre-se de que, em um mesmo texto, pode haver mais de uma função de linguagem. Cabe, pois, a nós identificarmos a predominante ou a que foi exigida pela questão. Aliás, não deixe de fazer os exercícios sobre funções da linguagem em nosso blog!