Tema: Os desafios para um Brasil mais sustentável

- PROPOSTA ENEM: A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema "Os desafios para um Brasil mais sustentável", apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.
- PROPOSTA VESTIBULARES: Escreva um texto dissertativo-argumentativo posicionando-se acerca do tema: "É possível conciliar políticas preservacionistas a desenvolvimento econômico?"
Disponível em: https://www.wwf.org.br
Texto II:
Mari Aparecida dos Santos
José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho
O agronegócio brasileiro exerce papel essencial no crescimento econômico ampliado, pois os efeitos de transbordamento não se limitam ao próprio mercado de produção de alimentos, mas envolvem outros agentes e processos, desde a obtenção dos insumos até a disposição final do produto. Pode-se mencionar que o fomento do agronegócio se relaciona nas várias perspectivas (econômica, social e ambiental) do desenvolvimento sustentável.
É inegável que o setor corrobora favoravelmente com a situação econômica e social do País, mas enfrenta importantes desafios sobre a dicotomia entre aumento da produção e redução de impactos ambientais. Os avanços tecnológicos têm sido aliados nesse sentido. Ainda que distante do nível tecnológico dos países desenvolvidos, a produtividade do setor tem aumentado rapidamente nas últimas duas décadas. Com isso, tem-se observado uma redução da pressão de desmatamento no Brasil.
Desafios relacionados à harmonização e equilíbrio entre as perspectivas se intensificaram a partir dos acordos realizados entre as superintendências dos países da ONU e organismos internacionais em prol da conservação do meio ambiente. Com o intuito de se criar uma forma de consumo sustentável, em 2002, na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, no momento em que foram discutidos os resultados da Rio 92, aprovou-se o Plano de Johanesburgo, com a proposta da elaboração de um conjunto de programas de apoio e fortalecimento das iniciativas regionais e nacionais para promoção de mudanças nos padrões de consumo e produção.
Como resultado das discussões em reunião realizada com chefes de Estado, em 2003, na cidade do Marrocos, o Processo Marrakesh surgiu com o objetivo geral de contribuir para tornar os padrões e níveis de consumo e produção mais sustentáveis por meio de um Marco de Programas, com duração de dez anos. Discussões maiores surgiriam após adoção do Protocolo de Kyoto, que condicionou reduções de emissão de CO2, para os países desenvolvidos. Os países em desenvolvimento, por não terem poluído significativamente no passado, a princípio ficaram isentos de metas de redução de emissão.
Com a finalidade de assegurar um comprometimento político renovado nos âmbitos econômico, social e ambiental, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (UNCSD) foi sediada pelo Brasil em junho de 2012, 20 anos após a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), ocorrida no Rio de Janeiro em 1992. O documento resultante reafirmou princípios da Rio 92, porém não determinou metas sobre os diversos tópicos envolvidos nos principais temas: economia verde e governança.
Em dezembro de 2015, na 21ª Conferência do Clima (COP 21), ocorrida em Paris, houve consenso para redução de emissões dos gases de efeito estufa, a fim de minimizar o aquecimento global, limitado ao aumento de 1,5º C até 2100. Os resultados desse mais recente consenso priorizam no Brasil as energias renováveis, a agricultura de baixo carbono e a restauração florestal. Além disso, o acordo prevê um apoio financeiro, com piso de US$ 100 bilhões por ano, aos países em desenvolvimento, tendo em conta as suas necessidades e prioridades. O documento também ressalta o papel importante do setor agropecuário quanto à salvaguarda alimentar em contrapartida das vulnerabilidades particulares dos sistemas de produção aos impactos adversos da mudança climática.
A maior regulação por parte do Estado das atividades e das políticas ambientais leva o setor de agronegócio a se mobilizar em prol de ações de desenvolvimento sustentável. Essas ações possuem um diferencial competitivo no mercado e uma maior valorização das marcas, considerando a adesão da sociedade à nova consciência socioambiental e às influências originadas por países demandantes de produtos agropecuários, com menor impacto sobre os recursos naturais. O novo Código Florestal brasileiro limita o avanço das fronteiras agrícolas ao passo que induz o aumento da produtividade. É necessário propor estudos mais específicos, que possam verificar o impacto produtivo ao longo da cadeia, na busca de maior eficiência.
Deve-se ressaltar que há muito espaço para se melhorar a produtividade e a eficiência dos setores econômicos nacionais. Foi-se o momento em que o desenvolvimento nacional estava desalinhado com as questões ambientais. O agronegócio não sobrevive sem a sustentabilidade produtiva.
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Mari Aparecida dos Santos é doutoranda do Programa de Pós-graduação em Economia Aplicada da ESALQ/USP e bolsista do PNPD, Ipea.
José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho é técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos Regionais, Urbanos e Ambientais (Dirur), Ipea.
Disponível em: https://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=3268&catid=29&Itemid=34#:~:text=O%20agroneg%C3%B3cio%20brasileiro%20exerce%20papel,a%20disposi%C3%A7%C3%A3o%20final%20do%20produto.
Texto III:
Embora a economia brasileira tenha se dinamizado, o agronegócio ainda é muito importante para o país. Para se ter uma ideia, estima-se* que cerca de 21% de todo o PIB brasileiro em 2014, cerca de 5,52 trilhões, seja oriundo dessa atividade, que se encontra em plena expansão, mesmo durante a crise que o país atravessa atualmente. Nos últimos quarenta anos, a área cultivada cresceu* cerca de 53%. Dos 851 milhões de hectares que o Brasil possui, cerca de 329,9 milhões estão ocupados por propriedades rurais, e a produtividade passou de 1.258 kg por hectare para 3.484 kg.
Esses números de crescimento do agronegócio são muito animadores em uma perspectiva meramente econômica. Contudo, em uma perspectiva ambiental, esse avanço gera preocupação em virtude dos diversos impactos ambientais causados pela superexploração do meio ambiente. Na busca pelo desenvolvimento e lucro imediato, muitas empresas desrespeitam as legislações ambientais e exploram o meio ambiente sem se importar com as consequências dessa exploração, causando diversos problemas ambientais no espaço agrário. Entre esses problemas, destacam-se:
O Desmatamento é a primeira consequência da atividade agropecuária no Brasil. Desde o início da colonização, grande parte das áreas de vegetação nativa do litoral, região Sul e Centro-Oeste do Brasil foi desmatada para abrir espaço para áreas de pastagem e cultivo. Em virtude desse crescente desmatamento, o Cerrado e a Mata Atlântica já foram introduzidos na lista mundial de biomas com grande diversidade que estão ameaçados de extinção (os chamados Hotspots), existindo ainda a previsão do desaparecimento do Pantanal e da Amazônia nos próximos anos caso sejam mantidos os mesmos índices de desmatamento nesses biomas.
Perda da biodiversidade: Com o desmatamento, muitas espécies da fauna e da flora entram em extinção, pois não conseguem garantir a sua sobrevivência nas pequenas reservas que restam de seu ecossistema.
Degradação do solo: O desenvolvimento extensivo da agricultura tem causado a degradação do solo, que acaba se tornando improdutivo ao longo do tempo, gerando não só problemas ambientais, mas também problemas econômicos para aqueles que o degradaram. As técnicas de cultivo inadequadas, o uso intensivo de máquinas e a não rotatividade das culturas produzidas no solo podem ocasionar o esgotamento dos nutrientes, compactação, erosão e aceleração da desertificação. Na pecuária, o pisoteamento contínuo do gado pode compactar o solo e favorecer o desenvolvimento de processos erosivos.
Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)Esgotamento dos mananciais: em todo processo produtivo das atividades relacionadas com o espaço agrário, utiliza-se grande quantidade de água. Para se ter uma noção, na produção de milho, gastam-se 1750 litros por quilo produzido. Já para a produção de carne no Brasil, gastam-se, em média, 4325 litros por quilo de frango, 15.400 litros por quilo de carne bovina e 10.400 litros para cada quilo de carne suína. A progressiva retirada de água de mananciais e de reservatórios de águas subterrâneas por essas atividades pode acarretar a diminuição do volume ou até mesmo o esgotamento de rios e lençóis freáticos.
Contaminação do solo, ar e água. O uso indiscriminado de agrotóxicos, fertilizantes e antibióticos tem causado a contaminação do ar, do solo e da água no meio rural brasileiro. O agrotóxico, ao ser lançado nas plantações ou no pasto, pode espalhar-se pelo ar, infiltrar-se no solo, atingir o lençol freático ou ser levado pela água da chuva para os mananciais.
Geração de resíduos: é cada vez maior a quantidade de resíduos gerados durante a produção agropecuária no Brasil. Esse fato pode ocasionar problemas no descarte desses materiais e, como resultado, contaminação ambiental, já que muitos dos resíduos gerados, como potes de agrotóxicos e as fezes dos animais, devem ter uma destinação especial.
Nos últimos anos, tem sido crescente o incentivo por práticas agrárias mais conscientes e que haja um desenvolvimento sustentável do agronegócio no Brasil. A sustentabilidade favorece não só o meio ambiente, mas também aumenta a produtividade das empresas e diminui os gastos futuros. Pórem, ainda é muito comum o desrespeito com as leis ambientais, já que, como a fiscalização ainda é ineficiente, raramente se pune algum tipo de crime ambiental no país e, quando isso acontece, na maioria dos casos, as punições são relativamente brandas, as medidas de reparação exigidas não são postas em prática ou não conseguem recuperar a área degradada.
NOTAS
*De acordo com a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil, o agronegócio representa 21% do PIB brasileiro e tem se expandido no país.
Por Thamires Olimpia - Graduada em Geografia